Se até ao início de 2020 a tecnologia já era vista como um aliado poderoso no combate ao isolamento, a partir de março de 2020 passou a ser imprescindível e soberana neste contexto. A pandemia do Covid-19 obrigou grande parte do planeta a um período de distanciamento físico e, de facto, foi a tecnologia que nos deixou continuarmos próximos socialmente, característica essencial à nossa condição de seres humanos, sempre em busca de conexões sociais.
Porém, importa realçar que, embora o número de indivíduos isolados tenha aumentado nos últimos meses, existe um conjunto de pessoas que vive de perto esta realidade de forma contínua — destacam-se os idosos e as pessoas com deficiência. Para estes dois grupos, a tecnologia é absolutamente fulcral já que permite um contacto com o mundo que de outra forma não teriam. De acordo com o balanço da Operação Censos Sénior 2020, divulgado no início do mês de novembro pela GNR, os números em Portugal são gritantes: existem cerca de “42.000 idosos a viver sozinhos ou em situação de vulnerabilidade nos 18 distritos do país”. A tecnologia emerge, assim, como um ponto-chave neste combate ao isolamento e à solidão — e estão já a ser postas em práticas inúmeras estratégias que merecem destaque. De seguida, vamos destacar algumas, provando como a tecnologia ajuda a manter a saúde mental, estimula a sociabilidade e mantém o cérebro e as emoções em pleno funcionamento.
- 1. Permite comunicar com as pessoas de quem mais gostamos
Seja através das tradicionais videochamadas ou de outras plataformas entretanto criadas (com o Skype ou o Zoom), a tecnologia permite que continuemos a conversar cara a cara com os amigos e a família que estão longe. Quando conversamos, uma parte importante da conversa é a comunicação não-verbal e as chamadas através de vídeo permitem que esta valência continue a ser considerada. Contudo, é importante sublinhar que a tecnologia não deve ser um substituto das conversações à volta da mesa ou dos encontros familiares de domingo — no entanto, em situações em que tal não pode acontecer, é uma alternativa vital para construir e manter relações sociais. Os portugueses são inclusive grandes adeptos desta modalidade — num estudo da Kaspersky publicado em setembro de 2020, 55,8% dos inquiridos referiu que utiliza a tecnologia “para fazer chamadas telefónicas ou videochamadas com amigos e familiares, sobretudo, para combater a solidão”.
A tecnologia neste campo parece estar a evoluir e já foram realizadas experiências com realidade virtual e realidade aumentada. Um estudo em específico utilizou realidade aumentada para que duas pessoas interagissem com as imagens de chat de vídeo uma da outra, concluindo que ambas relataram uma sensação de maior presença social e uma experiência mais envolvente face aos outros meios tecnológicos.
Um projeto que merece destaque nesta vertente é o #darvoz, criado pela BCG (Boston Consulting Group), a Câmara de Lisboa, a Carris, a Indigo, a Mercedes-Benz.io, a NOS e a SCML. O intuito é promover a doação de telemóveis e tablets a famílias e pessoas mais carenciadas, de forma a que possam continuar próximas dos seus entes queridos.
- 2. Facilita o acesso à informação e ao entretenimento
Se antigamente tínhamos de esperar até à hora do telejornal para obter notícias sobre o estado do mundo, hoje em dia conseguimos obtê-las a qualquer hora do dia, em qualquer lado. Além disso, já não temos de sair de casa para ser entretidos e temos conteúdo audiovisual infinito à distância de um clique. No já referido estudo da Kaspersky, isto é evidente — mais de metade dos portugueses inquiridos (57,6%) recorrem à tecnologia para ver programas televisivos ou filmes e 44,2% afirmou utilizar a tecnologia para ouvir música. Podemos estar em casa sozinhos mas estamos continuamento ligados ao mundo.
- 3. Permite ligarmo-nos a comunidade locais e globais
É inegável que a tecnologia permite a criação de novas ligações sociais e a melhor parte é que torna mais fácil conectarmo-nos a pessoas com os mesmos interesses, valores, preocupações e sonhos. Existem inúmeros fóruns e grupos de apoio nas redes sociais que abrangem públicos tão díspares como colecionadores de selos, pacientes com diabetes ou apaixonados por viagens — e é fácil juntarmo-nos e conversarmos com pessoas que partilham das nossas ideias sobre um tema específico, independentemente da parte do mundo em que se encontrem. Especificamente no contexto da pandemia, surgiram várias iniciativas portuguesas com o objetivo de ligar pessoas e promover a nível local a interajuda e a solidariedade — o Vizinho Amigo e o SOS Vizinho são duas das plataformas que merecem destaque.
- 4. Oferece-nos robots como companhia
Se antigamente os robots eram apenas material de filmes de ficção científica, a verdade é que existem vários contextos reais e atuais em que os conseguimos imaginar. Se formos obrigados a um novo período de confinamento e isolamento social, muitas das pessoas que vivem sozinhas vão voltar a cenários de depressão, tristeza, solidão… E será que a solução não podem ser robots de companhia? A ideia não é que substituam os humanos mas que possam melhorar o bem-estar psicológico das pessoas que vivem em isolamento prolongado, como é o caso dos idosos. A pensar nisso, a startup israelista Intuition Robotics criou o ElliQ, um robot concebido para ser o novo melhor amigo dos nossos avós e que se assume como um companheiro digital para ter em casa. Responde a pergunta, faz telefonemas, analisa o ambiente, dá os bons dias e ainda oferece atividades de entretenimento e de enriquecimento mental. Inovador é pouco!
A empresa japonesa AIST criou também o PARO — um robot terapêutico com o formato de uma foca bebé. Indicado principalmente para pacientes com sistemas associadas à demência, consegue reagir à luz e ao som e reconhece vozes e palavras. A nível mundial, tem dado provas na melhoria do desempenho social, emocional e cognitivo das pessoas com demência e faz, também, companhia; sente quando é acariciado e abana a cauda de felicidade.
- 5. Ajuda-nos a ter amigos virtuais
Muitas vezes o isolamento social traduz-se no facto de as pessoas sentirem que não têm ninguém com quem desabar ou ninguém que lhes dê conselhos e oriente em determinados assuntos. É, por isso, que os chatbots estão cada vez mais em uso, assumindo-se como parceiros de conversa digitais. É uma indústria em franco crescimento: estima-se que passe dos 2.6 biliões de 2019 para 9.4 biliões em 2024, com uma taxa de crescimento anual na ordem dos 30%. O atendimento ao cliente é um dos setores que mais utiliza esta funcionalidade — quem nunca viu as suas perguntas sobre uma encomenda respondidas por um chatbot?
Neste campo, é pertinente destacar os chatbots especializados em ajudar pessoas que efetivamente estão sozinhas e precisam de conversar e desabar. O Replika é um nome incontornável: criado utilizando técnicas de inteligência artificial, permite que os utilizadores criem um companheiro digital à sua medida, que se adapta e molda ao longo da utilização, aprendendo até como é o nosso estilo de escrita. Algoritmos de IA e redes neurais permitem que este “companheiro” mantenha conversas expressivas e empáticas. É o nosso melhor amigo virtual, que cabe numa app que levamos dentro do bolso!
- 6. Leva-nos a viajar sem sair de casa
A realidade virtual não é só para os jovens e, cada vez mais, surgem produtos centrados num público mais idoso. A startup norte-americana concebeu uma proposta ousada: chama-se Rendever e permite que idosos com restrições financeiras ou de locomoção possam viajar pelo mundo através da realidade virtual. A parte boa é que estes passeios não são só lazer, já que o cérebro é estimulado e a realização pessoal também. Subir ao cima da Torre Eiffel ou ver a Aurora Boreal são algumas das aventuras possíveis nesta plataforma que é uma janela para o mundo.
É indiscutível que a tecnologia é, mais do que nunca, uma aliada que nos deixar estar próximos dos nossos entes-queridos, mas que também serve de confidente, cúmplice, ombro amigo ou parceira de viagens. As possibilidades são infinitas e certamente que os próximos anos vão trazer ainda mais possibilidades.
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