Quando fundámos a Assembly, assumimos imediatamente como missão a preparação das novas gerações para o futuro mercado de trabalho através do desenvolvimento de diversas competências tecnológicas.
A justificação para ser esta a nossa meta é simples e tem por base as mudanças que se têm vindo a sentir nas últimas décadas: inteligência artificial, robots e automação já não são apenas conceitos e materiais para filmes de ficção científica. Todos estes conceitos fazem parte da realidade atual e do nosso quotidiano — dos dispensadores robóticos das farmácias aos chatbots que fazem apoio ao cliente — e não faltam evidências sobre o seu papel no futuro, particularmente na mudança que implicarão no mundo empresarial e profissional.
Aliás, um pouco pelo mundo inteiro, tanto os líderes governamentais quanto os grandes nomes da economia e indústria debatem sobre o futuro do trabalho e as novas profissões, tendo em conta as mudanças que se farão (e que já se fazem) sentir como resultado da evolução tecnológica e consequente aumento da capacidade de automação. Mas, mesmo com esta crescente necessidade da tecnologia em vista, a nossa capacidade de resposta a estes desafios é diminuta. Focando-se em particular o sistema de ensino em vigor, é urgente que seja feita uma atualização dos conteúdos lecionados já que a escola atual não oferece um conhecimento tecnológico pleno nem estimula a literacia digital necessária para enfrentar os novos desafios.
Em 2017, a McKinsey Global Institute analisou 750 das profissões atuais (em diversos sectores, níveis de qualificação e condições salariais) e concluiu que 51% das mesmas são profundamente suscetíveis à automação, e isto considerando apenas a tecnologia atual. Esta conclusão implica, obviamente, uma redefinição profunda da maioria das profissões e das respetivas competências exigidas. No entanto, é importante sublinhar que esta informação deve ser encarada sem alarmismos, já que a automação e consequente desaparecimento de algumas profissões implicarão também o aparecimento de novos postos de trabalho.
Perante estes dados, há uma questão a que todos devemos responder:
o que temos feito para preparar as novas gerações para prosperar neste novo mundo?
Uma criança que ingresse hoje na Escola Primária irá terminar o Ensino Superior em meados da década de 2030 e terá, provavelmente, uma carreira para além de 2060. Na ausência da bola de cristal e da segurança de sabermos exatamente as necessidades da força laboral nesse futuro, conseguimos já supor que as exigências serão obviamente diferentes das atuais e que a mudança de paradigma irá continuar com os avanços tecnológicos cada vez mais acelerados.
Porém, o plano curricular da maioria das escolas em 2020 continua a focar os mesmos assuntos lecionados em 1990 — matérias essenciais, obviamente, à formação de todos os futuros adultos mas que não abarcam tudo o que importa conhecer neste mundo em mudança. No âmbito da conferência “Reinventar a Educação para gerar os Líderes do Futuro – Comunicar, Colaborar, Criar”, organizada em 2018, Sara Batalha — CEO da MTW Portugal — sintetizou esta ideia de forma certeira:
“Terá que se fazer mais e mais depressa para ter capacidade de resposta ao mercado de trabalho do futuro, que mais do que capacidades técnicas, exige capacidades sociais e emocionais, como pensamento crítico, capacidade de resolução de problemas, comunicação, colaboração e criatividade. Um perfil de competências que não só ainda não é ensinado na sala de aula como nem sequer existe na generalidade das empresas”.
Rogério Carapuça, Presidente da APDC – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações, partilhou também neste evento outro ponto de vista a reter:
“A Educação é uma área fundamental para todas as empresas, porque estas vivem do capital humano e precisam dele para responder às exigências do mercado. Mas o setor é também ele desafiante, uma vez que mantém paradigmas que persistem há décadas, quando as necessidades de talento estão a evoluir muito rapidamente”
Importa, pois, trazer para o sistema de ensino novas valências e maneiras de pensar que privilegiem o que as crianças e jovens de hoje vão precisar enquanto profissionais do amanhã: competências digitais, capacidade de resolução de problemas, pensamento criativo e o trabalho colaborativo são disso exemplo. Atualmente, mesmo quando as escolas ministram disciplinas e matérias relacionadas com as competências digitais, o foco é a utilização da tecnologia — como criar um documento ou uma apresentação — em vez de ensinar os mais pequenos a pensar tecnologicamente ou a estimulá-los a criar tecnologia.
Eis o maior desafio: redefinir a forma como preparamos as crianças e jovens de hoje para acompanharem a evolução das competências necessárias para o novo mercado de trabalho, tendo presente que a tecnologia é a nova literacia do futuro. É uma ciência, uma forma de estar, um instrumento, mas também é uma nova forma de pensar e agir. Aprender tecnologia é desenvolver o pensamento digital, é aprender a desenhar interfaces, é analisar dados, é machine learning, é robótica, é cibersegurança, é também programação, entre muitos outros domínios e aplicações. Mas a aprendizagem da tecnologia vai além disso e serve também de estímulo à curiosidade, desenvolve a capacidade de resolver problemas, promove a criatividade e ensina a aprender a aprender.
É no contexto desta urgente mudança de paradigma que surge a Assembly, com o objetivo de colmatar as lacunas do ensino atual e com a missão de preparar as novas gerações para o futuro que já está a acontecer hoje, no presente. Não queremos substituir a escola ou o ensino obrigatório pois sabemos que este fornece competências essenciais, imprescindíveis e extremamente valiosas para o desenvolvimento psicossocial dos mais novos. Porém, queremos fazer parte da mudança e ajudar a preparar as crianças e jovens para os desafios tecnológicos e digitais que vão enfrentar mais à frente. Importa referir que não nos limitar a ensinar tecnologia como uma matéria isolada; focamo-nos sim na forma de aprender, no processo educativo e numa metodologia diferenciadora que tanto valoriza a teoria como a prática. Trabalhamos para que os nossos alunos sejam tecnológicos, se mantenham curiosos e que explorem a tecnologia nas suas mais variadas vertentes: no fazer, no pensar e no sentir. Juntamente com a tecnologia, trabalhamos as suas competências comportamentais, para que não sejam apenas definidos pelo que sabem; mas, acima de tudo, por aquilo que são: futuros líderes da mudança positiva na nossa sociedade.
Para isto, desenvolvemos de raiz uma metodologia de aprendizagem que privilegia a descoberta, a adaptação à mudança, o pensamento criativo e a experimentação, tendo por base a tecnologia como facilitador do processo. Na Assembly, os alunos desenvolvem trimestralmente projetos selecionados por eles próprios, com base nos seus pontos-fortes, áreas de interesse, ritmo e necessidades. São, pois, desafiados a falhar, a voltar a tentar e a explorar novos ângulos e abordagens para superar obstáculos. Têm ainda uma motivação extra já que dispomos de um sistema de gamification onde o esforço e o sucesso são recompensados, em detrimento do domínio do receio de falhar e da frustração do insucesso. A frequência das aulas e a conclusão de metas dão acesso a novos títulos e certificações, recebendo também pontos que podem ser utilizados em inúmeras experiências recreativas de natureza tecnológica nos várias espaços da Escola— a imersão em universos de realidade virtual e jogos e competições de eSports são algumas possibilidades.
Respondendo à pergunta que serve de título a este artigo: sim, na Assembly estamos de facto a preparar crianças e jovens para os desafios profissionais que vão enfrentar num mundo cada vez mais tecnológico. E sim, acreditamos que as valências que ensinamos aos Assemblies serão extremamente valiosas, úteis e diferenciadoras nas próximas décadas da vida profissional desta geração que aprende, cria, joga e brinca na nossa Escola!